quarta-feira, 24 de novembro de 2010

POEMA DAS NUVENS FOFAS - António Gedeão


Hoje por ser um dia de nuvens fofas transcrevo:
POEMA DAS NUVENS FOFAS



Nos píncaros do Olimpo as nuvens pairam
como clara batida, fofa e crespa.
O Olimpo é um monte, e as nuvens, água
que as baixas temperaturas condensaram
em estrelados cristais.
Ali, atrás das nuvens, se instalaram
os deuses, em seus tronos marchetados
(pois se os grandes da Terra tinham tronos 
com mais razão os deuses os teriam).
Ali, atrás das nuvens, planearam
o meu futuro,
sem saberem que as nuvens eram água.


Eram, de facto, água,
e como água cairam sobre a Terra.
Primeiro em fios breves, voluptuosos
como chuveiro tépido nas pálpebras;
depois em fios grossos,
em baraços, em cordas, em colunas,
cataratas do céu que o próprio céu ruiram
em bátegas cerradas.
Na precipitação das catadupas de água
envolveram-se os deuses na enxurrada,
deuses e tronos,
e com eles também o meu futuro.


António Gedeão - Poemas Póstumos
Rómulo de Carvalho nasceu em Lisboa a 24 de Novembro de 1906, foi um professor de físico-química do liceu, divulgou a ciência e assinou poemas sob o pseudónimo de António Gedeão.

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